A menina que não sabia voar


A menina que não sabia voar

Amanda subiu as escadas que levavam até a sua casa lentamente. Estava cansada e seguia dando um passo após o outro literalmente se arrastando, obrigado os músculos de sua perna a irem até quase a barreiras do total esgotamento físico. Por pouco não xingou um enorme palavrão quando o menino que contava não mais de 10 anos ao descer correndo desesperado os degrais da imensa escadaria quase a derrubou.

- Olha por onde anda! - Gritou amanda.

Mas o menino já estava longe e distansiava-se ainda mais. Não havia a menor possibilidade de que ele parasse e pedisse desculpas por seu ato pouco educado. Ele virou um esquina lá embaixo da escadaria um ou dois segundos antes que fosse possível escutar o enorme palavrão gritado por ela. Amanda irritou-se mais por ele não pedir desculpas, do que por ter esbarrado nela.

Muito irritada, Amanda entrou no beco que terminava justamente em sua casa ainda resmungando um monte de imprecações que parecem para os que não foram testemunhas do acontecido totalmente tresloucadas e desconexas.

Para em frente da porta para procurar suas chaves dento da bolsa. Abre a porta com o máximo de rapidez que  conseguiu por conta do cansaço.

Era assim nos últimos nove anos.  Chegava do trabalho cansada, mas este cansaço era mais relacionado ao ônibus cheio que pegava no trajeto do trabalho para casa, e das escadarias do morro do Turano, que as atividades que desenvolvia durante 08:48 min por dia no emprego.

Ao se ver na sala, desabou no sofá, deixando a bolsa cair no chão no canto da sala. Parecia que seus músculos, assim que abandonados, não sendo exigido nada deles naquele momento, começavam a reclamar do grande esforço que fizeram. Amanda sentia as pernas doerem, mas queria aproveitar ao máximo os minutos que teria sozinha.

Em pouquíssimos minutos sua mãe entraria pela mesma porta que ela deixou entre aberta ao correr para o sofá. O descanso dos seus músculos terminaria e assim, com o retorno das atividades, eles parariam de reclamar.

A calmaria estava prestes a terminar, mas, absorta em seu descanso, Amanda não percebeu um choro inconsolável que subir as escadas e se aproximava lentamente, mas em velocidade constante da sua porta. Apenas quando sua mãe atravessou a soleira amanda foi arrancada violentamente do descanso pelo choro estridente de Manuela.

Ela pulou do sofá num instante e correu até sua filhinha. Sua intuição materna previu um tombo no jardim da infância e um joelho ralado ou algo pior, por causa do volume dos gritos dados pela garotinha.

A primeira coisa que fez por instinto fui percorrer com olhos atentos e mãos preocupadas o corpinho da filha em busca do ferimento que era a causa do choro, mas, não achou nada.

- Mãe, porque ela está chorando tanto? - Perguntou Amanda com muito espanto no rosto para sua mãe, que ainda estava na porta apenas observando a cena.

- Pergunta para ela! - Disse a mãe, com um tom de voz que denunciava alguma traquinagem da criança.

- Manoela, filhinha, o quê houve?

A menina continuava chorando com o rostinho banhado em lágrimas e tentava responder a pergunta de sua mãe, mas não conseguia.

Amanda abraçou sua filha e a consolou. Depois de pouco tempo a menina falou,  embora ainda entre algum choro.

- Mãe, eu tô tentando voar e não consigo!

Enquanto falava ainda soluçando estas palavras, jogava o corpo para o alto numa tentativa inútil de voar, e começou a chorar ainda com mais intensidade do que antes.

Amanda sorriu feliz e esqueceu completamente o seu cansaço. Apenas abraçou sua filhinha pensando: "Se você voasse, quem iria chorar era eu."

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