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Mostrando postagens de agosto, 2011

Auto-Oficina Literária - A Inspiração 1

(J. C. Peu) A inspiração, ou seja, a disposição de ânimo especial que faz você se sentir capaz de realizar a melhor obra já feita, a viagem nunca antes imaginada, ou simplesmente um poema singelo, mas capaz de tocar o mais fundo possível do coração do homem, existe realmente. É, porém, muito instável. Se a inspiração não existisse não haveria artistas. Mas a instabilidade dela é tanta, que podemos dizer que nenhuma obra, ou pouquíssimas delas, devem ser creditadas apenas á inspiração. O que acontece com mais freqüência é que uma idéia, surgida num destes momentos iluminados, é trabalhada incansavelmente até resultar numa grande obra. Geralmente o artista tem de utilizar de diversos artifícios para que a urgência de criar continue durante todo o processo de criação da obra. Embora não possamos controlar a inspiração, nem ditar em que momento ela deve aparecer-nos, podemos cooperar com ela, conosco e com o universo ao nosso redor, para que ela se sinta á vontade para aparecer quando

Escola

(J.C. Peu) Um quadrado, Um monte de pessoas, Nenhuma imaginação. É a descrição de uma sala de aula. A descrição de uma escola é diferente: Dez quadrados, Mais pessoas ainda e Menos imaginação.

Revolta

(J.C. Peu) Amor, volta E trás de volta Minha alma Que estava morta Desde sua partida. Amor, re-volta Coloca a mão Dentro do caixão E sacode, acorde Este corpo morto, Me acorde pra vida. Amor, na volta Traga refrigerante E vontade de viver. Traga também uma corda. Não se preocupe com a ambigüidade Que este pedido possa trazer Não, não e não! Não é o que você pensa O que eu quero dizer. Amor, volta E, uma meia-volta seria o ideal. Volta e traga de volta O que você não levou Um grito, um tiro, Re-vól-ver.

Ficção Científica

Na época do lançamento do filme "Distrito 9" escrevi um pequeno texto que acho legal postar novamente, pois falei sobre o filme "Lunar" e acabei lembrando deste texto, espero que gostem. (José Carlos Peu) Até meados da década de 1990, ‘2001, Uma Odisséia no Espaço’, ‘Blade Runner’, ‘Star Wars’, eram considerados ‘clássicos’, o que melhor se fez no cinema de ficção científica. Com um ou outro título sendo acrescentado ou retirado desta lista dos melhores, exemplo de ‘E.T. O Extraterrestre’, ‘Laranja Mecânica’, ‘Contatos Imediatos do 3º Grau’, ‘O Dia em Que a Terra Parou’, ‘O Planeta dos Macacos”, etc, tudo já estava definido. Parecia que tudo era um fato consumado e que nada de importante surgiria. Porém, esqueceram de avisar isso a Andy e Larry Wachowski, e eles lançaram em 1999 ‘Matrix’, filme que tornou-se a ‘pedra de toque’ de todos os outros filmes de ficção científica por um bom tempo. A importância de uma obra de arte não pode encerrar-se em si mesma. Tal

Lunar

(J. C. Peu) O filme Lunar não é uma obra prima. Em algumas partes explica demais o que poderia deixar para os espectadores descobrirem sozinhos, em outras não mostra nada do que os espectadores gostariam de ver. Ainda assim, Lunar é uma obra respeitável. Em nenhum momento agride a inteligência dos espectadores, como é comum em alguns filmes de ficção científica recentes, e consegue equilibrar perfeitamente doses de filosofia, crítica social, e o uso de efeitos especiais. Sam Bell, praticamente o único personagem do filme, é um operário multiplicado como gado, criado como gado, e trabalha como gado. O que o alimenta é a idéia de retornar para a esposa e para a filha. Porém, não sabe que a esposa e a filha não passam de implantes de memórias do verdadeiro Sam Bell, que vive muito longe dali, com a verdadeira filha, que na memória tem três ou quatro anos, e na realidade conta quinze anos. Sua maquete, onde dedica as horas de folga, já foi de vários outros Sam’s antes dele, e será dos fu

No Trem Para Japeri

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(J. C. Peu)                                                                     Erick havia abandonado o segundo ano do segundo grau desde a metade do ano. Por volta do dia 10 de dezembro de 1998 eu já tinha todas as notas, todos os resultados que diziam que eu, finalmente consegui concluir o segundo grau. Era assim que se chamava o Ensino Médio na época. O Bira ainda estava no período de provas. Ele estava cursando o segundo ou o terceiro ano, não lembro direito.             Cada um de nós estudava num colégio diferente, mas, por via das dúvidas, preferimos não explicar isso muito bem ao nosso empregador. Éramos peões de obra na reforma da Servicenter, loja de peças e eletros domésticos de cozinha que funcionava na rua Voluntários da Pátria, em Botafogo. Esta loja existe até hoje, embora não com o mesmo nome, no mesmo endereço, próximo á Cobal do Humaitá.             Por causa dos estudos saíamos do trabalho ás 16:00 h. Uma hora a menos de trabalho. Os outros peões ficavam soltando

Auto-Oficina Literária - Blogs

(J. C. Peu) Em muitos blogs direcionados para novos escritores encontramos uma mesma dica: Leia, leia, leia! Alguns dizem que se deve ler de tudo, desde livros clássicos, até livros mais comerciais. Esta dica é muito boa, embora eu acho que, independente de lermos clássicos ou não, o importante é lermos bons livros, com boas histórias. Como estímulos para boas ideias na hora de desenvolver uma história, podemos assistir bons filmes, irmos em exposições legais, ou simplesmente prestar mais atenção a tudo o que acontece ao nosso redor. Muitas vezes deixamos escapar bons argumentos, apenas por não estarmos atentos ao nosso redor. Algo muito bom, também, é ler blogs e sites legais, e temos uma grande variedade deles. Veja uma pequena lista de bons blogs que merecem ser visitados: O Nerd Escritor: http://www.onerdescritor.com.br/ O Escrivonauta: http://www.escrivonauta.com/ Vida de Escritor: http://dicasdoalexandrelobao.blogspot.com/ Ofício Literário: http://blog.oficioeditorial.c

Auto-Oficina Literária - O Escritor

(J. C. Peu) O escritor é o único artífice que dedica seu tempo, seus esforços, enfim, sua vida a fazer algo que não sabe ensinar. Um pedreiro, um eletricista, um médico, um engenheiro, todos conseguem ensinar a outros seu fazer, seu ofício. Porém, um escritor não tem como fazer isso, posto que nem mesmo ele tem certeza que sabe alguma coisa referente a sua arte, já que em cada nova obra, um novo desafio se apresenta corporificado pela página em branco. Na verdade, é até difícil para todos, inclusive para o próprio escritor, acreditar em si mesmo, no seu domínio da arte da escrita. Se um médico, um carpinteiro, ou um pintor, possuem um objeto material, concreto, para se debruçarem sobre ele, o mesmo não acontece com o escritor. O que ele tem são idéias, apenas isso. Além dessas idéias, tudo o que há é o trabalho, e a obsessão. Tudo o que há de concreto no ofício do escritor é, ao mesmo tempo, evanescente. Mas, se a escrita literária não pode ser ensinada (pense em Shakespeare ou em Ma

Metacanção

(J. C. Peu) Num canto o poeta produz Encanto e canção E sai do seu canto E de sua tristeza Invocando amor, Evocando paixão... Pigarreia e enceta seu canto E dito proverbial, Conduzindo para além Sua própria paixão E seu próprio ser Sendo inundado pelo seu canto E se encantando, Como cantou na canção... Pura imaginação poética Pensar que um mero canto Feito na tristeza de um canto Pode refletir transcendência Sobre si mesmo E provocar em outros A mesma transcendência... Tudo no canto do poeta Faz sentido, Quer neste canto, Quer naquele canto algures, Mesmo que não tenha significado... Como dizer que A Paixão é tal qual Lama seca na sola do pé.

O Dia da Caça

(J. C. Peu) Odiava ir à escola. Fora as brincadeiras, a merenda e o doce de leite pastoso ‘Xamego Bom’, servido como sobremesa numa colher de sopa bem cheia, nada mais me interessava. Eu subia numa mangueira, que tinha os galhos estrategicamente posicionados pela natureza para facilitar a fuga de alunos insatisfeitos, e sempre inventava uma desculpa para chegar mais cedo em casa.             As brigas e a bagunça da turma do ‘fundão’ também me interessavam. Ver uma garota, Luciana era o seu nome, chorando após toda a galera da bagunça decretar que o seu apelido seria ‘Xaropinho do Capeta’, inspirado no programa infantil do Sérgio Malandro, ‘A Hora do Capeta’, foi, para mim, uma alegria. Na abertura do programa, tinha um capetinha fazendo traquinagens. Dizíamos que ela se parecia com ele. Isso é uma das lembranças mais impactantes da minha infância.             Outro dia, enquanto caminhava no bairro num sábado pela manhã para ir até a Rua da Feira comprar um ou dois quilos de pescad

Chinelo

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 (J. C. Peu)             Quando era jovem, sentia um prazer inenarrável quando Ele me pisava com carinho. Quando Ele andava devagar olhando para todos os detalhes á sua volta e não tinha nenhuma preocupação com o relógio. Era como se seu desfile tivesse como o único objetivo que todos contemplassem a minha beleza. Parecia que eu flutuava pela rua, ah! Que gozo! Era como se o mundo fosse perfeito e o céu não precisasse existir, posto que eu já estava no paraíso...             Mas, estou ficando velho e gasto. Ele me usou algumas vezes para jogar futebol no asfalto duro da rua de sua casa. Cada vez que ele corria com a bola em direção ao gol, dava pisadas vigorosas no asfalto e me machucava muito. Pressentia o pior, sabia que mais cedo ou mais tarde eu não iria agüentar este pique. Purgatório...             Um dia desses, Ele desceu um morro com a bicicleta velha e sem freio e me pressionou contra o pneu para evitar o pior para ele. Não pensou em mim, me esfolou, me deixou com uma marca

Epopéia

Epopéia (J.C.Peu) Mi, quando eu me for, Fui. Dou uma passada Na sua casa, casada. Um beijo, um abraço, um tchau, Fui. Passo na casa do Zequinha, "-Zeca, queria fazer uma pergunta: A gente termina o alicerce Domingo?" A paciência do fim de semana acaba, Eu findo. O Rogério foi pra enfermaria A consciência ta me cobrando Uma visita, e Eu fazendo artesanato... ...Queria mesmo é terminar meu quadro, Mas o Lessa disse apenas: "-Zé, era azul da Prússia Ao redor dos caquis." E agora, José? A light cortou a luz Do fim do túnel. O que falta é PAIXÃO, Escrita assim mesmo, Com maiúsculas. Que dor!!!!!! Como dói ver a Carla Chorando por causa Do Dente E não fazer nada, Pois, todo o mundo sabe Que dor que dói mesmo É a dor de consciência! Querendo agradar a todos Não agrado ninguém. Ouço a voz do Vinicius, Ledo engano, O Vinicius não anda de trem. Coitada da minha mamãe, Nunca vai entender que Chega uma hora Que todo poeta fracassa Se