Flores Para Algernon, de Daniel Keyes


Flores Para Algernon

"Que estranho é o fato de pessoas de sensibilidade e sentimentos honestos, que não tirariam vantagem de um homem que nasceu sem braços ou pernas ou olhos, não verem problema em maltratar um homem com pouca inteligência. Enfureci-me ao lembrar que não fazia muito tempo que eu, como esse garoto, tinha sido o tolo que fazia o papel de palhaço."
Daniel Keyes

O que aconteceria se pessoas com limitações mentais pudessem ser transformadas em pessoas realmente muito inteligentes?


Daniel Keyes, que nasceu em 1927 e morreu no ano de 2014, foi um escritor  norte americano que escreveu entre outros livros, Flores Para Algernon.

Keyes concluiu uma graduação e um mestrado em psicologia, e trabalhou muito tempo em uma empresa de histórias em quadrinhos subordinado a Stan Lee, chamada Atlas Comics.

Se esse nome não significa nada pra você, saiba que com o tempo a Atlas mudou seu nome para Marvel Comics.

Inclusive, Keyes disse que a ideia base de Flores Para Algernon surgiu para se tornar uma história, mas depois ele decidiu que queria transformá-lo em um livro. Essa decisão resultou em Flores Para Algernon ganhar um prêmio Hugo, um prêmio Nebula, vender mais de cinco milhões de exemplares e receber adaptações para a TV e o cinema.

Daniel Keyes foi professor emérito da Universidade de Ohio no curso de escrita criativa.

No ano 2000 Keyes recebeu a honra de se tornar Autor Emérito pela associação dos escritores de ficção científica e fantasia da América. 

Agora que já conhecemos um pouco da história do autor, vamos mergulhar na obra.

*****

Charlie Gordon, é um homem com deficiência mental, que conta em seu diário, com palavras semelhantes às de uma criança que começa a escrever, as dificuldades que encontra no dia-a-dia.  

De repente, alguns cientistas veem a possibilidade de operá-lo para torná-lo uma pessoa "normal".  

Eles também fizeram isso com Algernon, um rato de laboratório, e funcionou.  O ratinho se tornou extremamente inteligente, e por um tempo consideravelmente longo.

Mas, algum tempo depois, o ratinho começa a experimentar mudanças de comportamento, até começar a esquecer as coisas que havia aprendido, se tornar violento, começar a regredir mentalmente e, infelizmente, morrer.  

Charlie, que se tornou um cientista e o observa todos os dias, tentando reverter esse declínio de Algernon, sabe exatamente o que isso significa. Ele precisa correr contra o tempo para salvar sua própria vida...

Na história temos Charlie Gordon como personagem principal, um cara com deficiência mental de trinta e poucos anos que, por querer ser mais inteligente, com uma grande vontade de aprender e saber mais, alguns cientistas que querem com se tornar famosos e ganhar poder e dinheiro, decidem incluí-lo (com a aprovação de sua família...) na experiência do século, algo que promete revolucionar a humanidade: fazer alguém com um quociente mental muito, muito abaixo da média, se tornar inteligente. Quer dizer, muito, muito, muito inteligente.

O livro é escrito na primeira pessoa, e nós somos participantes, em primeira mão, de tudo o que acontece com o coitado do Charlie Gordon.  A gente vê as humilhações a que ele é submetido pelas pessoas que ele acredita ser seus amigos, a gente acompanha os maus tratos que a sua mãe fazia com ele, pelo fato de que ela não queria aceitar que ele tinha uma deficiência mental, em fim, Charlie Gordon sofre pra caramba, só que ele não consegue nem perceber seu sofrimento, e deseja muito se tornar mais inteligente, pois ele quer agradar a sua mãe...

À medida que ele vai ficando mais inteligente, vemos uma mudança muito abrupta com Charlie: desde como ele escreve, até sua percepção das coisas e, sobretudo, das pessoas. 

No início do livro ele escreve com muitos erros, de forma bastante simples, apresentando suas ideias como se fosse uma criança de cinco anos de idade, mas, em pouco tempo, ele vai desenvolvendo sua habilidade de escrita, mas, também de pensamento, e vai aprofundando seus pensamentos em relação a tudo ao seu redor.


 Sua inteligência aumenta consideravelmente, e ele se torna mais inteligente do que qualquer um dos cientistas que lideram o programa, e a experiência de aumento de inteligência.

Só que, ao se tornar mais inteligente, ele passa  de uma pessoa gentil e boa, inocente, para uma pessoa pedante, convencida, arrogante e, às vezes, insuportável...

 Em poucos meses, sua vida e seu jeito de ser mudam completamente.  Ele descobre que todas as pessoas ao seu redor são menos inteligentes que ele e ele não sabe nem ter uma conversa "normal" com as pessoas. 

 Antes da cirurgia, todas as pessoas faziam ele de bobo e o humilhavam, depois da cirurgia ele ficou tão inteligente que todo mundo têm medo dele...

Então, ser inteligente significa uma vida melhor para Charlie?

A resposta é simples, não.

 E você vai se perguntar,  de onde vem o título do livro?

Algernon é o nome do rato de laboratório que é comparado a Charlie.  O primeiro rato a sair vivo da mesma operação que eles realizam em Charlie.  

Quando a inteligência de Algernon começa a declinar, então, a gente sabe que as coisas não vão ficar muito boas para o Charlie.

Conhecemos toda a vida de Charlie: sua família, sua vida, como ele realmente é e, sinceramente, muitas, muitas coisas acontecem ao longo de suas pouco mais de 200 páginas que nos fazem rir, chorar, sentir medo, raiva, alegria...

 Flores Para Algernon é uma história, diferente, muito emotiva e explicada de forma original e divertida com, uma crítica muito clara à sociedade da época, e que de certa forma, é muito atual e pertinente até hoje.

 É muito interessante o fato de os cientistas tratarem o Charlie como pessoa, somente após a operação. 

 Então,  o personagem se pergunta o tempo todo se antes do experimento ele não era uma pessoa?  Não era ninguém?  Não existia?

Flores Para Algernon é um livro belíssimo, é um dos melhores livros de ficção científica que eu já li na vida.

Notei bastante semelhança dessa dualidade do Charlie Gordon com deficiência mental x o Charlie Gordon intelectual ser bastante semelhante a dualidade entre Jekill x Hyde.

E isso é muito legal...


Em 1968 foi lançado o filme Charly, que aqui no Brasil é Os Dois Mundos de Charly.

O filme é um drama de ficção científica dirigido por Ralph Nelson e estrelado por Cliff Robertson, que fez o papel do Charlie...

A interpretação de Cliff Robertson foi muito bem recebida e o ator venceu o oscar de melhor ator no ano seguinte em 1969. 

No ano 2000 foi realizada a segunda adaptação para as telas, e dessa vez o nome foi Flores Para Algernon mesmo.


Na versão de 2000 Charlie Gordon é interpretado por Matthew Modine, e infelizmente o filme não foi um grande sucesso...

"Inteligência e educação sem doses de afeto humano não valem droga nenhuma."
Daniel Keyes


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