A Estrada, de Comarc McCarthy



Cormac McCarthy é um escritor norte-americano nascido em 1933.


Na juventude ele serviu na Força Aérea dos Estados Unidos durante quatro anos, e estudou Artes na Universidade do Tennessee.


McCarthy tem sido comparado nos últimos anos a outros grandes nomes do romance contemporâneo norte-americano, como Don Delillo, Philip Roth ou Thomas Pynchon.


Os pontos altos da sua obra são os livros:


Meridiano de Sangue, de 1985.



Onde Os Velhos Não Têm Vez, de 2005



E


A Estrada, de 2006.



No ano seguinte ao lançamento de A Estrada, em 2007,  McCarthy recebeu o prêmio Pulitzer de Ficção pelo romance A Estrada.


O Prêmio Pulitzer é a honraria mais importante concedida ao jornalismo norte-americano pela Universidade de Columbia, localizada em Nova Iorque. Ele é entregue aos profissionais que se destacam nos campos do jornalismo, da literatura e da música.


Nomes importantes da literatura dos Estados Unidos já receberam esse prêmio, como Philip Roth, John Updick, Toni Morrison, William Faulkner, e Comarc McCarthy está entre eles.


McCarthy tem dois filhos Cullen, que hoje tem 59 anos de idade e John que tem atualmente 23 anos.


Quando John nasceu, McCarthy já tinha mais de sessenta anos e ficava pensando o tempo todo que podia morrer a qualquer momento e deixar seu filho pequeno desamparado. Foi então que teve a idéia de escrever A Estrada. Quando o livro foi lançado, o escritor tinha 73 anos e seu filho caçula tinha 8 anos.


E nós conseguimos ver, tanto no livro quanto no filme, a grande preocupação de um pai em proteger seu filho.


McCarthy é conhecido por escrever Westerns e retrata bem a violência, a aridez e a crueza do Oeste Norte Americano. Em  'A estrada',  ele escreveu diálogos curtos e, às vezes, um pouco confusos, pois o texto é todo corrido, não há marcação de diálogo. Ele não fez uso de aspas ou travessão. Então, exige um pouco de atenção para saber quem está falando em cada momento.


Porém, seus parágrafos não são muito longos, e a sua linguagem é clara e direta, sem muitos floreios desnecessários. Ele não é daqueles autores que para você entender precisa de uma grande bagagem de leituras, ou da ajuda constante de um dicionário.


Em 2009 A Estrada ganhou uma versão para o cinema, dirigida pelo australiano John Hillcoat, que é muito fiel ao livro de Comarc McCarthy.


Alguns dizem que o filme é fiel ao livro até demais, como se isso fosse um demérito. É verdade, o filme é muito fiel ao livro. Praticamente todas as cenas do filme estão no livro, talvez apenas algumas cenas com a esposa do personagem de Viggo Mortensen é que não apareçam no livro.


Mas, a minha opinião é que essa é uma das melhores adaptações de uma mídia para outra de todos os tempos.


Em um mundo devastado onde as pessoas perderam tudo, nada importa, exceto a família.  Eles só têm um ao outro.  E esse é o motor que move o filme: o amor do pai pelo filho.  Um pai com medo de que seu filho não saiba cuidar de si mesmo em um mundo tão perigoso no dia em que ele estiver ausente.


E tem o bônus de contar com uma atuação primorosa de um ator espetacular, que é acostumado a ser muito eficiente em suas interpretações: Viggo Mortensen.  Possivelmente, a convicção com que interpreta seu personagem é um dos maiores trunfos dessa produção.


A estrada é uma obra que aponta o perigo de não dar ouvidos aos avisos da natureza em relação aos abusos cometidos pela humildade.


Houve uma hecatombe ecológica. Não é mostrado exatamente o que aconteceu, mas, algo deu muito ruim, e o planeta está morrendo, e muito rápido.


Nesse contexto, as certezas se perdem e logo surge o desastre da moralidade na figura do canibalismo, por exemplo. 


O homem destrói sua socialização ao perder sua conexão com a natureza e a terra que o alimenta. 


Já que o planeta morreu, e todos os habitantes dele também vão morrer mais cedo ou mais tarde, os sobreviventes vivem numa individualidade ainda mais absoluta e exacerbada que hoje em dia.


As pessoas são rebaixadas a viverem como animais apenas fugindo, roubando, matando ou devorando uns aos outros. E quando eu falo de devorando uns aos outros não é figura de linguagem, é canibalismo mesmo.


E nesse caos pós-apocalíptico, um pai precisa proteger seu filho pequeno dos inúmeros perigos que os rodeiam.


Na história aparecem outros personagens, mas, por tão pouco tempo que na tela nós vemos praticamente apenas Viggo Mortensen e Kodi Smith-McPhee. E a atuação do garotinho também é muito boa.


Essa redução de personagens imposta pela história fonte do livro, obriga o longa-metragem a concentrar sua força expressiva nos dois atores, e eles arrasam, com uma ótima química e bastante contraponto.


O personagem do pai, mostra-se como um ser humano ambivalente em termos morais. Ele não é uma coisa só, e isso faz esse personagem ser mais humano e realista. Enquanto o pai está disposto a fazer qualquer coisa para proteger o filho, e é extremamente preocupado, e foi embrutecido com as situações que vivenciou, o filho não se permite ser moldado nessa mesma fôrma que seu pai, e é meigo e preocupado com as pessoas ao seu redor, servindo como uma barreira para seu pai não passar de vez para o lado dos homens maus.


O garoto serve como uma bússola moral para seu pai, pois vive perguntando para ele se ainda são os mocinhos da história, se eles vão se tornar os caras maus, se vão precisar comer carne de gente no futuro, enfim, se o garotinho não estivesse tão determinado a ser do time das pessoas boas, certamente seu pai ia acabar cometendo barbaridades terríveis, como as demais pessoas nesse futuro sombrio.


Um fato interessante é que no livro anterior de Comarc McCarthy, Onde os Velhos Não tem Vez, tem um personagem que fala algo interessante. Ele diz que nunca se cansa da natureza.


"Estar rodeado por ela é estar calmo. Cura o coração. As montanhas, as árvores, as planícies sem fim. A lua, as milhares de estrelas. Qualquer homem pode ser calmo e completo."


Aqui em A Estrada, essa natureza que passa paz e completude não existe mais. Os únicos sentimentos que ela passa agora são angústia, medo e desesperança.



O filme, e o livro, são lentos, sombrios e angustiantes. Aqui não vamos ver ação, nem perseguição entre "mocinhos e malvados", nem mesmo um pai que vai explodir todo mundo que cruzar seu caminho para proteger seu filho.  Pelo contrário, veremos um drama inesquecível com momentos de autêntica ternura, tensão e mal-estar, muito mal-estar.


Não é uma ficção científica cheia de explosões e conceitos tecnológicos, mas é uma história extremamente atual, possuí um drama humano fascinante, e é uma das melhores atuações de Viggo Mortensen.


Vale a pena ler o livro e assistir ao filme.

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